C.C.T.V.

 Mr.Lazy&Mme.Leisure associam-se a Vj_ para criar a performance de apresentação do projecto C.C.T.V. - Closed Circuit Trans Voyer. Dia 1 de Junho no FICAS, pelas 22h nas Caldas da Rainha.

 CCTV - Closed Circuit Trans Voyer  

Ver, é essencialmente uma busca activa de essenciais, um processo activo em que o cérebro na sua busca de conhecimento acerca do mundo visível, descarta, selecciona e ao comparar a informação seleccionada com as suas memórias armazenadas gera a imagem visual no cérebro, um processo notavelmente semelhante àquilo que o artista faz.
 Hoje, com a televisão e as marcas comerciais, toda a nossa sociedade produz imagens. O estúdio artístico perdeu a sua função inicial de ser “O” sítio onde as imagens eram produzidas. Como resultado os artistas movimentam-se, deslocam-se para onde as imagens são feitas, colocando-se a eles próprios como ligações na cadeia económica na tentativa de a interceptar.
 Toda esta avalanche de imagens produzidas diariamente cria uma distância cada vez maior entre o mundo visível e o mundo visualmente fabricado, entre a imprevisibilidade da rua e o conforto do sofá, criando em nós uma faceta voyeurista sem precedentes.
 Câmaras de vigilância, reality shows, vídeos caseiros, fotos privadas, manipulações digitais, alimentam a sociedade contemporânea e a sua crescente necessidade de observar e de ser observada, sustentam esse universo voyeur onde a identidade camuflada é tida como real.
 A nossa vida, o nosso corpo estão cada vez mais “publicitados”. A qualquer lado que vamos estamos a ser filmados. O nosso percurso pode sempre ser registado e posteriormente reproduzido, criando relações sociais através de imagens, como se a vida fosse representada pela lógica do espectáculo onde a experiência do real vivido fosse já uma substituição do vivo pelo não vivo.
 Vivemos povoados desses fantasmas, de realidades ficcionadas, de produtos secundários que tomamos como reais, onde a representação do verdadeiro é um movimento do falso, onde a vida é apanhada pelas próprias abstracções.
 Começamos por perder a nossa identidade, a nossa memória individual. Começamos também, a perder a nossa memória colectiva porque esta última vive numa estreita relação com a primeira e sem a memória dos outros, sem esse mundo de relações sociais mais directas, a condição humana deixa de existir, deixa de ser possível reconhecer vida.
 Neste panorama têm surgido diversas abordagens artísticas que se afirmam contra a sociedade vigiada, chamam a atenção do espectador para as questões de controlo e da falta de privacidade tornando frases como “Big Brother is watching you” em dados que pertencem hoje à nossa consciência social. Sabemos que estamos a ser observados e vivemos segundo essa condicionante. Adaptámo-nos e convencemo-nos de que é confortável essa consciência de nos sabermos filmados. Apropriámo-nos de tal forma desta ideia que agrada-nos principalmente a possibilidade de nos ser autorizado assistir.   

Ficha técnica
Performance com projecção de Vídeo e manipulação sonora ao vivo.
O público assiste a uma acto performativo criado especificamente para ser observado por uma câmera de vigilância, para provocar e testar a capacidade de reacção de quem está do outro lado da mesma. Os performers criam o seu próprio reality show. O público é assim, e à imagem do que se passa no seu dia-a-dia, um voyer, um observador de um acto que não está a ser feito directamente para si mas que lhe é permitido testemunhar.


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