Vende-se alma ao Kilo



Colónia International Collective presents…

"VENDE-SE ALMA AO KILO"
uma performance/instalação de Mr.Lazy&Mme.Leisure

A juntar aos prédios devolutos - constantes na cidade do Porto - há uma outra arquitectura que atrai o olhar para as suas reentrâncias e saliências. Os corpos das mulheres à porta das pensões, debruçadas nos carros e de curvas inclinadas encostadas às paredes que já pertencem à paisagem urbana de algumas zonas da cidade assim como a deslocação lenta dos carros dos clientes e das carrinhas rápidas que deixam as mulheres nas ruas, ditando um movimento e ambiente característicos que são rapidamente detectados por quem aí passa. Ao sermos interpelados por uma dita profissional do sexo e no decorrer da conversa, ouvimos da mesma: "antes vender o corpo que vender a alma". Não sabemos o que será preciso para vender a alma, talvez só Fausto e Mephistofeles saibam a resposta, mas questionamo-nos se na entrega de um corpo (seja lá o que isso fôr) se pode dissociar a alma, se esta não acabará por ser tocada e alterada de alguma forma. Será?

A apresentação contém um caractér de instalação onde aquilo que se anuncia vender não é senão, a capacidade de relembrar a condição animal ou humana da carne, no seu aspecto contemplativo, no seu carácter de estudo que se extrapola para o lado comercial e consumista, de uma sociedade que se consome a si própria. Não valemos mais do que o valor daquilo que produzimos, e, quando o deixamos de fazer, somos devorados.
Montaigne afirmou "Empresta-te aos outros; dá-te a ti próprio." A vida de prostituta é a metáfora mais radical para o acto de se emprestar aos outros. Entramos agora no carácter performativo da apresentação. Mas esta prostituta, ou melhor, este acto performativo do universo da venda sexual aqui abordado, não se apresenta nos moldes comuns a que o nosso olhar se habituou a reconhecer como tal: o corpo que se oferece ao cliente fazendo uso de uma postura afirmativa, forte, quase de imposição numa abordagem sistemática. Em contraponto, o corpo aqui apresentado não impõe ou interpela, é atractivo, mas estático, utilizando os códigos do manequim de montra. No entanto, a força deste coincide com a do outro ao encontra-se no mesmo universo de abertura para o exterior, de atracção ao olhar onde o resultado pretendido é igualmente a compra de um produto. Esta exposição corporal conjuga a presença física da carne com o universo criado pelas frases comerciais dos cartazes que completam o jogo proposto. O manequim de montra expõe-se, mostra-se, atrai, emprestando-se ao olhar do comprador.

Ficha técnica:
Título: "Vende-se alma ao Kilo."
Autores: Isa Araújo e Cláudio Sousa.
Duração: Das 19 às 20 e das 23 às 00
Local: Espaço Alma em Formol no nº 354 da rua do Almada, Porto.

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